terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Na semana que vem, em Belém!

[Dal Marcondes] O Fórum Social Mundial voltou ao Brasil. Não será em Porto Alegre, onde nasceu e teve algumas de suas mais exuberantes edições. Desta vez será na Amazônia, em Belém, capital do Pará. A idéia certamente é colocar a Amazônia no centro dos debates, com a participação de ongs e movimentos sociais que atuam na região, povos tradicionais e, também, com um olhar mais próximo sobre o modelo de economia que está sendo praticado lá. Sou um repórter que vai muito à Amazônia. Apenas em 2008 estive na região umas dez vezes, alem de estar envolvido com diversos movimentos nacionais e regionais sobre a Amazônia. Por isso não posso negar a importância de se realizar o FSM lá.

No entanto, me parece que um outro tema deve ser relevante nas discussões do Fórum. Esta semana um amigo engenheiro, que tem uma atividade ambientalista focada na recuperação de áreas degradadas, me perguntou “para que serve o FSM?”. Eu já participei de algumas edições e tive de parar para pensar. Como dar uma resposta para quem não está envolvido diretamente? Bom, me parece que o Fórum serve para debater tremas estruturais do processo civilizatório. Que tipo de economia o mundo quer e como deverá ser o futuro. O Fórum é um momento especial, onde se faz uma reflexão não economicista sobre a sociedade, sem determinismos.

Na semana que vem estarei em Belém. Vou integrar uma equipe de jornalistas que cobre o FSM e distribui textos pelo mundo. E me pergunto para que vai servir este FSM em Belém? Claro que vai ter o debate amazônico, mas não deve parar por ai.

Em 2005, em Porto Alegre, havia um debate forte sobre o papel das empresas, dos grandes grupos econômicos, no processo de desenvolvimento. A ida do presidente Lula a Porto Alegre e a Davos, na Suíça, onde acontece o Fórum Econômico Mundial, mostrou a importância de se fazer um link entre as demandas sociais e as diretrizes econômicas. O cenário era outro, mais focado em problemas políticos do que em desafios econômicos. Bush e suas guerras estava com força e o “mercado” mostrava força nas principais economias do mundo.

Desta vez o cenário é de uma degradação do modelo econômico e com os Estados tendo de tirar recursos (dinheiro) da sociedade para salvar empresas e bancos. Quando um governo decide sacar recursos do Tesouro para bancar empresas e bancos este dinheiro não será usado para a educação, saúde, segurança ou qualquer outra despesa típica de Estado.

Durante anos os atores econômicos pregaram o “Estado Mínimo” para poderem atuar mais livremente. Mas na hora em que a economia quebra é o Estado que vem salvar as empresas. Não vou entrar no mérito, ao menos neste texto, se está certo ou não salvar as empresas. O que acho que deve ser debatido é o Estado. Que tipo de Estado é preciso para atuar em um mundo globalizado e, ainda assim, exercer sua soberania local com garantias para suas sociedades?

Estamos avançando pelo século XXI carregando estruturas de Estado que vêm do século XIX. Moedas nacionais estão sendo trocadas por valores globais e as economias se integram como organismos siameses. Que Estado é necessário para enfrentar estes desafios e quais são seus papéis. Educação, saúde, segurança e Justiça são papéis históricos do Estado. Nem sempre bem administrados, mas de alguma forma consensuais. E em relação ao ordenamento econômico? Não se trata mais de socialismo e capitalismo, o Estado americano nada tem de socialista e já gastou trilhões de dólares para salvar sua economia.

Nesta semana Barak Obama assume como o “presidente da esperança”. Que Estado ele quer? Com que responsabilidades?

Vamos a Belém com uma agenda fragmentada. No entanto, um tema tem de entrar na pauta: De que tamanho será e que responsabilidades terá o Estado para o Século XXI?

*Dal Marcondes é diretor de redação da Envolverde. Recebeu o Prêmio Ethos de Jornalismo em 2006 e 2008.
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