[Nelson Tembra] “Salvemos a Amazônia”- assim publicou o panfletário periódico A Folha do Norte, há 41 anos atrás, em 22 de julho de 1967, referindo-se ao VII Congresso Nacional de Municípios, cuja conclusão principal dizia respeito à integração (ou ao início da desintegração?) da Amazônia.
Segundo o periódico, o desenvolvimento da imensa região esteve sempre na preocupação de cada delegado da reunião. E o discurso central de integração, de que foi relator o próprio fundador da Associação Brasileira dos Municípios, escritor Osório Nunes, foi aplaudido de pé no Teatro da Paz. Ele concitou os congressistas a que não deixassem morrer as palavras otimistas e incentivadoras de quantos brasileiros viessem dos mais longínquos rincões da Pátria dizer “presente” à batalha pela conquista da selva e de suas riquezas, da qual dependeria o próprio futuro da Nação.
Falava-se então da fauna, do reino das onças pintadas, das capivaras, dos jacarés, dos guarás, da imensa variedade de aves, as mais belas do mundo. Falava-se então da flora exuberante e variada com uma paixão otimista e prática de quem sabia serem sua predestinação rasgar a mata virgem para descobrir-lhe o seio e desfrutar-lhe os encantos. Falava-se então das riquezas imensas, do petróleo, do manganês, dos minérios raros que tanto necessitávamos às vésperas de nos tornarmos “potência nuclear”.
Falava-se da infra-estrutura necessária. Das estradas que precisavam ser construídas, dentre elas a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Da Belém-Brasília que precisava ser asfaltada. Das frotas fluviais que precisavam navegar pelos milhares de igarapés, de furos, de afluentes gigantescos, levando civilização pelas estradas líquidas, autênticas veias por onde deveria correr o sangue do progresso.
Da educação para o desenvolvimento, onde as escolas seriam em verdade instrumentos de integração do homem ao meio ambiente. Da saúde, clamando pela instalação de hospitais ou mesmo de simples postos ambulantes, instalados em pequenos barcos, visitando a gente sofrida do imenso interior, libertando-a das humilhantes e vergonhosas epidemias originárias do subdesenvolvimento.
Falava-se sem preocupação divisionista sem querer enxergar duas, três, ou mais regiões amazônicas, quando só existia uma, há muito, esquecida e abandonada, e clamando integração à comunidade nacional através de um desenvolvimento uniforme e urgente.
Reivindicava-se, inclusive, tratamento diferenciado na questão das isenções fiscais, atentando-se para interesses secundários e deixando de lado o que deveria ser a preocupação de todos os amazônidas, de todos os brasileiros: desenvolver partindo da criação de uma infra-estrutura; rasgando-se estradas; melhorando-se portos; construindo-se ou adquirindo-se frotas para o transporte fluvial; educando e zelando pelo homem. Somente assim poderiam ser atraídos os capitais necessários à abertura de clareiras no meio da mata virgem.
Pensando na pátria ameaçada de perder esta imensa região, que corresponde a 60% do território nacional; se não fossem atendidos aos anseios de desenvolvimento do mundo moderno, super-povoado e faminto; todos foram convocados na autêntica cruzada em busca do “tempo perdido”.
Hoje, a história se repete de forma inversa, pois temos de continuar gritando “Salvemos a Amazônia” não para integrá-la ao território nacional, pois que ela pertence ao mundo globalizado e há quem diga que sofra ameaça de invasão por países do “primeiro mundo”. Agora, devemos defendê-la da degradação total, principalmente a humana, que é decorrente de problemas sócio-econômicos históricos.
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