Por Neuza Árbocz, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos
É possível produzir alimentos para uma população mundial em constante crescimento sem esgotar os nutrientes do solo nem destruir a cobertura florestal remanescente no planeta? Os Sistemas Agroflorestai estão provando que sim.
Unir agricultura a formação de florestas e promover a recuperação de áreas degradadas com base na sucessão natural de espécies, esse é o objetivo dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). O grande precursor dessa técnica no Brasil é o suíço Ernst Götsch, que há 25 anos forma SAFs e ensina a desenvolvê-los, tendo como base as terras de sua propriedade no Sul da Bahia.
Ernst visitou o Brasil pela primeira vez nos anos 1960 e ficou tão encantado com nossas riquezas naturais quanto chocado com os danos provocados pelas monoculturas. Na década de 1980, mudou-se para a Bahia, onde começou a implantar sistemas agroflorestais. Com esse trabalho, ele adquiriu suas próprias terras, no município de Piraí do Norte, um solo pobre, sem serventia para a agricultura e, por conseqüência, muito barato. Em menos de 20 anos, Ernst havia transformado totalmente o lugar, passando a contar com mais de 300 espécies por hectare e garantindo em sua propriedade um clima até 5 graus mais fresco do que no restante da região.
“Em qualquer lugar, pode-se chegar à terra boa de novo”, garante o especialista. Sua técnica consiste em identificar as espécies nativas do local onde se quer produzir e plantar consórcios, isto é, conjuntos de plantas cujo tempo de vida se combinam, de forma a apoiar o crescimento umas das outras. As pioneiras são mais resistentes ao solo empobrecido e, ao terminarem seu ciclo, formam a matéria orgânica que começa a transformar as condições locais. As espécies comestíveis integram os consórcios e são inseridas de forma a ocupar um estrato e um período de vida em harmonia com as demais.
No caso do Sul da Bahia, por exemplo, Ernst colhe, no primeiro ano, feijão-de-porco e, no segundo, mandioca. No terceiro e no quarto anos, já consegue colher também abacaxi e maracujá. No quinto, passa a produzir também banana e no sexto, palmeira-pupunha. Do sétimo ano em diante, colhe-se açaí, entre outros produtos. “Tudo o que faço é buscando que o resultado de minha operação resulte em mais vida e mais riqueza no planeta inteiro”, declara o agricultor.
Para saber mais, acesse o site Agrofloresta.net. Conheça também o Movimento Mutirão Agroflorestal e veja um vídeo da TV Cultura sobre o trabalho de Ernst Götsch. Cheque ainda a citrofloresta formada pela comunidade Yamaguishi, em Jaguariúna, São Paulo.
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