quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Faltam profissionais com visão estratégica

Diante de um novo mercado verde que se expande e da necessidade de economizar recursos, empresas buscam cada vez mais profissionais com uma visão estratégica e integrada. Os que dominam o conceito da sustentabilidade serão crescentemente valorizados nos processos de seleção, exatamente pela habilidade de antecipar cenários, projetar o negócio no futuro e conciliar aspectos econômico-financeiros com sociais e ambientais.

De acordo com relatório publicado em janeiro de 2008 pela Net Impact and Ellen Weinreb CSR Recruiting - uma organização global composta por estudantes e profissionais conscientes de MBA - o número de empregos verdes cresceu cerca de 37% no período de três anos e meio em posições específicas de responsabilidade social corporativa. Porém, a definição exata do que é uma carreira "verde" permanece nebulosa para muitos profissionais.

O termo geralmente se refere a posições que envolvem sustentabilidade ou empreendimentos sociais, mas a cada dia deseja-se mais que novos profissionais tenham expertise socioambiental. Nesse contexto, o aumento no número de vagas para aqueles com alguma especialização deve aumentar nos próximos anos.

"Com a preocupação governamental e o rígido fornecimento de licenças ambientais, essa é uma forte tendência no mercado", avalia Silvana Nardini Bock, diretora da Panelli Motta Cabrera & Associados (PMC). A abertura de vagas para profissionais de sustentabilidade tem sido mais freqüente nas grandes corporações. "Apesar de muitas empresas ainda não terem se conscientizado da importância estratégica desse tema, há grandes organizações que, por causa da natureza do negócio ou de fortes valores internos, tornaram-se referência e facilitaram a disseminação do conceito", destaca a diretora.

Em momentos de crise, a sustentabilidade pode sair do foco das empresas no curto prazo, prejudicando a criação de vagas para profissionais com conhecimentos mais específicos sobre o tema. No entanto, para Juliano Ballarotti, gerente da divisão de engenharia e manufatura da Michael Page Brasil, aqueles que tiverem o conceito incorporado ao seu modo de trabalho terão vantagem competitiva em relação a outros profissionais. "Ainda não existe uma demanda considerável por um profissional que entenda totalmente de sustentabilidade. Porém, aquele que tiver o conceito arraigado na sua formação vai sair na frente de seus concorrentes", ressalta Ballarotti.

Ainda que a crise impacte negativamente a criação de empregos verdes, a tendência é que o setor se recupere, tendo em vista a crescente valorização de questões socioambientais pela sociedade. "O momento pode ser ótimo para as empresas pensarem o modelo mais adequado. Naturalmente, esse nicho vai voltar e no futuro com uma força muito maior porque hoje as pessoas estão mais politizadas, os cidadãos vêm cobrando mais", destaca o gerente da Michael Page.

Perfil profissional

Saber trabalhar com a diversidade e em equipes multidisciplinares, além de boa comunicação e relacionamento interpessoal são aspectos relevantes na hora da escolha de um candidato para preencher a vaga em uma empresa.

Para Silvana, profissionais de sustentabilidade exercem o papel de agentes de mudança. "É necessário saber influenciar as pessoas de maneira positiva, para que a empresa possa gerir e planejar seus negócios de forma sustentável, possibilitando assim a perenidade do negócio."

Nesse contexto, alguns perfis tendem a se destacar tanto na área executiva quanto operacional. "Perfis típicos de sustentabilidade operacional são os engenheiros ambientais, florestais e bioquímicos. Já nas posições executivas, advogados, comunicadores e administradores exercerão esse olhar mais estratégico", avalia a diretora da PMC.

À medida que cresce nas organizações o comprometimento com práticas responsáveis de negócios, empregos tradicionais estão exigindo cada vez mais competências ligadas à sustentabilidade junto às características fundamentais desejadas. "Esse profissional precisa ser muito dinâmico porque, com a velocidade das mudanças mundiais, o que hoje é economicamente viável não será amanhã. Deixa-se de procurar um profissional mais técnico para optar por um com perfil mais completo, capaz de enxergar os empreendimentos como um todo e se atualizar permanentemente", avalia Ballarotti da Michael Page.

Em posições executivas, a noção de sustentabilidade será prioritária. Para disseminar o conceito na empresa, algo que será vital para sobrevivência das corporações, o corpo de dirigentes deverá se empenhar em identificar novos profissionais para preencher as demandas socioambientais.

Segundo Silvana, da PMC, esse tema começa a permear a vida das companhias, passando a fazer parte de suas discussões estratégicas. "Este movimento origina-se na governança corporativa, que dita as normas para que a empresa esteja alinhada com o conceito de sustentabilidade", avalia Silvana.

A busca por especialização também determinará o sucesso de profissionais nesse mercado em evolução constante. "As empresas demandarão cada vez mais especialistas e consultores em sustentabilidade. Certamente vai ser um conhecimento muito necessário para o futuro", propõe Ballarotti.

Novas oportunidades

Muitos profissionais estão descobrindo novas oportunidades de carreira por meio da participação em organizações e atividades socioambientais. Atualmente, em meio ao desenvolvimento de um mercado consciente, algumas áreas têm ganhado destaque.

Em empresas que utilizam recursos naturais como matéria-prima, e outros segmentos com programas de responsabilidade social como foco, por exemplo, há boas oportunidades de especialização.

Segundo Ballarotti, a área de projetos também deve gerar possibilidades de atuação daqui para frente. "Os profissionais de grandes projetos precisam aplicar o conceito da sustentabilidade, pois os novos empreendimentos requerem uma visão integrada. Se uma empresa vai construir uma fábrica, por exemplo, deve avaliar qual o impacto no meio ambiente."

Para Maria de Fátima, o avanço do mercado de empregos verdes tem impactado os currículos de ensino superior. "Pode-se observar esse fato a partir de ações da educação, que estão oportunizando opções sobre o tema em suas grades curriculares", avalia a coordenadora.

Nos setores em que o impacto ao meio ambiente é maior, como na mineração e extração vegetal, além da energia renovável - em ascensão no Brasil - também se prevê um aumento de demanda por novos profissionais nos próximos anos. "Atualmente a engenharia ambiental é a formação mais adequada tecnicamente para essas novas posições. Para os profissionais seniors, que possuem uma formação diversificada, é importante valorizar características como, por exemplo, bom relacionamento com órgãos governamentais, ONGs, comunidades e mídia, entre outros", propõe Silvana.

Recrutadores De acordo com uma pesquisa realizada pela Gelre, 62,5% dos recrutadores consideram a participação de um candidato em atividades de cunho socioambiental uma característica importante no processo seletivo. Porém, a maioria deles não questiona os candidatos sobre o tema. Segundo a pesquisa, 70,9% dos entrevistadores nunca fizeram perguntas sobre sustentabilidade e 42,4% também não questionaram se eles participam de atividades ou programas sociais.

"O recrutador nada mais é do que um agente que entrega para o cliente aquilo que ele precisa. A partir do momento em que a sustentabilidade vai ganhando mais importância no mercado, certamente os recrutadores olharão com mais interesse para os profissionais com esse tipo de visão e competência", avalia Ballarotti.

Cerca de 47,2%, dos recrutadores, segundo a Gelre, afirmam perguntar aos entrevistados sobre o tema: 16,4% sempre, 22,9% às vezes e 7,9% raramente. Segundo Maria de Fátima, o reconhecimento das competências individuais e comportamentais é de muita importância na avaliação dos candidatos. "Os profissionais responsáveis pela avaliação devem rever seus critérios que, ainda hoje, envolvem questões como idade, gênero e raça, não mais determinantes na identificação dos melhores profissionais", avalia.

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