Uma pequena ilha localizada a cinco quilômetros do Oceano Atlântico, às margens do rio Muriá, no município de Curuçá, nordeste do Pará, abriga uma floresta rara que apresenta características de Mata Atlântica em plena região Amazônica.
A descoberta faz parte dos resultados preliminares de uma expedição científica do Museu Paraense Emílio Goeldi, como parte do Projeto Casa da Virada, do Instituto Peabiru e Petrobrás Ambiental. A ilha de Ipomonga têm 12 quilômetros quadrados e apresenta espécies e aspectos de fisionomia vegetal comuns à Mata Atlântica, floresta tropical típica das regiões nordeste, sudeste e sul do país. Até hoje não havia registros deste tipo de vegetação na Amazônia.
O chefe da expedição, o pesquisador Samuel Almeida, explica que é possível caracterizar a floresta da ilha de Ipomonga como Mata Amazônica Atlântica, “por mais surpreendente que possa parecer”. Mas afirma que não se trata de uma Mata Atlântica simples, pois está localizada no bioma amazônico.
“A antiga cobertura florestal tanto da microrregião do Salgado como da bragantina eram florestas de terra firme semelhantes a esse, mas com algumas diferenças fundamentais”, expõe.
Segundo o pesquisador, além da proximidade com o Oceano Atlântico, que influencia bastante a vegetação, a mata da Ilha de Ipomonga traz algumas diferenças importantes em relação às demais matas amazônicas.
“Existe uma maior proporção de espécies caduficolias, ou seja, que perdem as folhas durante a estação seca ou menos chuvosa. Há também uma maior proporção de epífitas, no que se assemelha com a mata atlântica. Existem também algumas espécies como o jatobá, que se encontra em toda mata”, descreve.
Almeida conta que a ilha apresenta ainda espécies de árvores típicas da floresta de terra firme, como piquiá, tauari, sapucaia e bacuri grande.
A expedição pretendia apenas fazer o inventário da flora local, mas as descobertas foram bem mais impressionantes, principalmente pelas características raras da mata e o estado de conservação da área.
“O estado de conservação da ilha foi o que mais impressionou porque os antigos donos não desmataram quase nada, a não ser por pequenas roças perto dos tapiris”, conta o pesquisador.
Ilha é área prioritária para pesquisas e conservação
Ipomonga é uma das ilhas que compõem o arquipélago da Reserva Extrativista Mãe Grande Curuçá, na microrregião do Salgado, dominado por mangues e restingas litorâneas. Trata-se de um dos maiores manguezais contínuos do mundo.
Para o pesquisador Samuel Almeida, a área é prioritária para pesquisas e conservação da natureza, importante para salvar o que resta de verde na região. A mata original foi drasticamente reduzida e apenas exitem cerca de 15 % de florestas remanescentes, mas já impactados pela retirada e madeira.
“A sugestão é que a Ipomonga seja transformada numa estação de pesquisas onde pode-se fazer pesquisa de monitoramento em longo prazo das populações e diversos grupos chaves, como plantas, mamíferos, aves, répteis, anfíbios e alguns invertebrados”, explica.
Almeida também alerta para os perigos do desmatamento. “Isso tem que ser feito urgentemente porque a tendência é que a ilha comece logo a ser desmatada para implantação de agricultura de subsistência.
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