Por Julio Godoy, da IPS
A União Européia poderia cobrir toda sua demanda de energia com fontes renováveis com a eólica e solar até 2050, mas os governos deveriam tomar agora as decisões correta, afirmam especialistas. Nesse sentido, recomendam não autorizar mais construções de centrais elétricas tradicionais, entre elas as que usam carvão como combustível; acelerar o fechamento das centrais nucleares e apoiar o investimento em eficiência e fontes renováveis. A modernização das matrizes energéticas (a proporção que representa na produção de energia uma ou outra fonte) em cada país é um requisito imprescindível, disse à IPS o professor de economia da energia Olav Hohmeyer, da Universidade de Flensburg.
A modernização dos acumuladores também, pois é necessário compensar as oscilações na quantidade de eletricidade que geram fontes instáveis como o vento e o sol, segundo Hohmeyer, também membro do estatal Conselho Assessor Ambiental da Alemanha (SRU). Este especialista, co-autor de um informe que o SRU apresentou ao governo de Ângela Merkel sobre como chegar a uma matriz energética que dependesse totalmente de fontes renováveis até 2050, considerou que nesse caso as usinas nucleares e movidas a carvão se tornariam supérfluas. Até 2020, as suínas de energia existentes hoje na Alemanha precisarão funcionar durante 1.200 horas ao ano, contra as oito mil atuais, para atender a demanda nacional, segundo o Instituto para os Sistemas de Tecnologia Energética Eólica (IWES).
O estudo, feito a pedido do Partido Verde alemão, indica que “a substituição de grandes usinas energéticas tradicionais ou sua ampliação é, devido ao grande fornecimento de fontes renováveis, tecnicamente desnecessária e economicamente pouco lucrativa”. Governos europeus, “entre eles o alemão, cometem um erro ao autorizar novas usinas de carvão, pois detêm a expansão e o uso eficiente das instalações que usam fontes renováveis”, disse Hohmeyer à IPS. Isto se deve ao fato de, em caso de excesso de energia, as turbinas eólicas e os geradores fotovoltaicos serem mais fáceis de apagar. As centrais tradicionais, por sua vez, devem funcionar de maneira ininterrupta para fazê-lo de maneira economicamente eficiente.
Somente na Alemanha há em construção 10 usinas a carvão. As autoridades examinam outros 15 projetos. Um punhado de centrais nucleares está em obras na França e na Finlândia. Se o programa do governo alemão servir como alerta, apesar de todas as evidências científicas e empíricas e das demandas dos ambientalistas, as centrais a carvão continuarão existindo. O ministro do Meio Ambiente, Signar Gabriel, não conseguiu convencer seu partido, Social-democrata (SPD) de incluir na plataforma para as eleições gerais do próximo ano normas mais rigorosas nessa área.
O SRU estimou que para deter o aquecimento global os países industrializados deveriam reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 80% até 2050. Para isso, seria preciso eliminar gradualmente as usinas que funcionam com combustíveis fósseis, como as de carvão. “Devido à longa vida das centrais de energia, as decisões que forem tomadas agora marcarão a paisagem nos próximos 40 anos. Os investimentos de longo prazo não deveriam contradizer a intenção principal de reduzir as emissões”, disse Hohmeyer. Isto significa que construir novas usinas a carvão somente se justificaria se lançassem, ao mesmo tempo, esquemas efetivos de captura de carbono.
O informe do SRU considera tecnicamente factível produzir toda a energia demandada na União Européia até 2050 a partir de fontes renováveis. Mas, para isso se deveria tomar medidas agora. A experiência alemã apóia esses argumentos. O governo declarou no final de 2005 que, até 2010, 12,5% da eletricidade seriam de fontes renováveis. E, mesmo antes desse prazo, os alemães já superaram o objetivo e chegaram a 15,1%. Especialistas e funcionários do Ministério do Meio Ambiente previram que, até 2020, a Alemanha irá gerar até 30% de sua eletricidade em fontes renováveis. A construção de novas centrais tradicionais seria uma barreira à expansão dos geradores eólicos e solares, segundo o estudo do SRU.
Outro informe, do Instituto de Pesquisa de Sistemas de Inovação, radicado em Karlsruhe, avaliou que o desenvolvimento das fontes renováveis de energia tem o potencial para criar até 1,4 milhão de empregos em toda a Europa. Se a porção da energia correspondente a fontes renováveis crescer a 20% até 2020, os empregos do setor duplicarão dos atuais 1,4 milhão para 2,8 milhões em apenas 11 anos, diz o estudo. Mas, para isso seria necessário investimento calculado em 210 bilhões de euros (US$ 300 bilhões). Com contrapartida, o investimento representaria crescimento econômico superior a 1% do produto regional.
(Envolverde/IPS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário