domingo, 28 de dezembro de 2008

Futuro da Amazônia é preocupante

No princípio tudo era verde, grandes florestas reluziam sob o sol. Parece que tudo ocorreu por volta de 10 mil anos atrás, quando a terra era pouco habitada e não havia batalhas mortais, a disputa por território.

Tudo era calmo, os habitantes eram formosos e robustos e não faltavam rios com alimentos. Pensava-se que não haveria nada que pudesse interessar ao outro mundo conhecido por ‘civilizado’.

De repente, os que aqui habitavam não seriam mais merecedores dessas dádivas. Talvez precisassem da ordem de reis para comandá-los e dos conhecidos jesuítas para convertê-los a Deus.

A Terra de Santa Cruz passou a ser a alegria de novos habitantes. Rebeliões começaram a surgir na floresta. Começava a vinda dos denominados ‘colonos’, com interesses de descobrir ouro ou prata para os seus reinados. Logo chegaram à conclusão de que poderia ser aproveitada a madeira, chamada pelos nativos de ‘ibirapitanga’, depois denominada de ‘pau-brasil’.

Foi assim que começou a devastação da Mata Atlântica, uma das mais belas e diversificadas do planeta, com mais de 25 mil espécies de plantas. É interessante notar que aquilo que a natureza criou o homem teve o prazer de destruir, paulatinamente, para atender interesses comerciais e satisfazer classes mais abastadas. A devastação da Mata Atlântica teve início no século XVI, prosseguindo até os dias atuais, quando, restam menos de 7% da cobertura florestal original, situados basicamente nas vertentes da Serra do Mar.

O pau-brasil foi o primeiro monopólio estatal usado para pagamento dos juros do primeiro empréstimo externo tomado pelo Brasil. O pior é que a floresta ‘foi para o brejo’ com a ajuda dos próprios índios, que trocavam madeira por ‘bugigangas’ com traficantes espanhóis, ingleses, franceses e portugueses.

Desde cedo, nosso país esteve nas mãos de traficantes que não respeitaram mais nada, e quando perceberam que o pau-brasil estava sendo exterminado, compilaram listas de espécies potencialmente exportáveis, plantas medicinais, aves e minérios.

A ignorância pairava quanto aos dispositivos e recursos legais de proteção ao meio ambiente. A falta de critério constituiu-se em lei e ainda hoje pouca atenção se dá ao aspecto humano, ou a importância de se manter o meio ambiente saudável. Para valorizar o globo terrestre é preciso primeiro valorizar o homem. Falta consciência naqueles que têm o poder nas mãos, mas não atuam adequadamente.

Neste contexto, é preocupante o futuro da Amazônia e em particular do Estado do Pará, para muitos um pulmão que vai se deteriorando, pois o que ocorria antigamente se repete de forma deslavada, em concomitância com apadrinhamentos políticos. Não é mera coincidência que, ainda hoje, soframos conseqüências de males que vêm de longe.

A Coroa portuguesa, em um momento histórico de dificuldade financeira, resolveu arrendar a ‘colônia’ a ‘homens de negócios’ que arriscariam capital próprio na colonização e exploração. O acordo era um monopólio de comércio e colonização e compreendia como principais compromissos dos arrendatários o envio de seis navios, anualmente, a exploração, o desbravamento e o cultivo anual de uma nova região de 300 léguas, a construção de fortalezas e o compromisso de guarnecê-las durante o prazo do contrato e, finalmente, a destinação à Coroa, no segundo ano do arrendamento, da sexta parte das rendas auferidas com os produtos da terra, e no terceiro e último ano do contrato, a quarta parte.

Logo após o estrago ambiental ocasionado pela exaustão do pau-brasil vieram na esteira dos interesses a exploração de outras espécies de madeiras exportáveis, o plantio e exploração da cana-de-açúcar, a exploração indiscriminada e predadora de recursos minerais, a cafeicultura, a construção de ferrovias, enfim, um longo e lucrativo reinado em terras brasileiras.

O Brasil foi colocado no mapa do comércio planetário, porém, junto com os dividendos que logo emigravam - e até hoje continuam a emigrar - para o exterior, seguiu-se à devastação das florestas, a escravização indígena em larga escala, os desatinos do monopólio e a monocultura, a infâmia inominável do tráfico negreiro, a vertigem do lucro fácil, o latifúndio, a pirâmide social exclusivista e a ganância desenfreada – vícios que o Brasil, em vez de eliminar, incorporou.

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