[Nelson Tembra] Pesquisando na internet sobre radioatividade, encontrei um exemplo que abrange muitos setores industriais, em especial a siderurgia, que é a queima do carvão mineral que contém elementos radioativos como urânio e tório. Uma avaliação do impacto radiológico resultante da queima do carvão para gerar energia elétrica vem sendo realizada no Reino Unido, pelo National Radiological Protection Board (NRPB), considerando várias formas de exposição: liberação de cinzas e radônio para atmosfera, descarte de cinzas, uso desse material como subproduto industrial e outras.
Resultados preliminares indicam que as exposições mais elevadas resultam do emprego das cinzas na construção civil e que a liberação na atmosfera contamina a vegetação local.
Entre as indústrias em que os problemas de exposição à radiação podem ser mais significativos destacam-se as do ciclo de lavra e beneficiamento de minerais. Isso porque alguns minerais, ao se formarem, incorporaram urânio e tório em proporções superiores à média da crosta terrestre. A extração e o processamento industrial alteram as condições físico-químicas que esses materiais apresentam na natureza, o que pode levar ao lançamento de parcelas significativas dos elementos radioativos no meio ambiente.
O aumento da radioatividade natural em resíduos sólidos da mineração, efluentes líquidos e emissões gasosas, e também em produtos e subprodutos que venham a ser usados por outros setores industriais, como as cinzas na construção civil, pode resultar em maior exposição de trabalhadores e da população em geral.
Por determinação da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria - IRD vem coordenando um programa de pesquisa bastante amplo para avaliar a extensão do problema no país, em especial no setor mineral, definir linhas de investigação prioritárias e propor estratégias de atuação em função dos resultados obtidos.
Também é avaliada a exposição de operários nos locais de trabalho, incluindo determinação de elementos radioativos no organismo (em amostras de urina e fezes) e em aerossóis (partículas suspensas no ar), e do radônio acumulado nos locais de trabalho. Estuda-se ainda a viabilidade da alteração das rotas de processo e da recuperação econômica de resíduos, visando reduzir impactos ambientais.
Para estudar as implicações ambientais dessas atividades foi desenvolvida uma metodologia de trabalho que começa na análise detalhada do processo operacional da indústria. A seguir, a presença de elementos radioativos e não radioativos é identificada em amostras colhidas ao longo do circuito operacional.
Em função das exposições estimadas calculam se os riscos radiológicos à saúde humana. Em uma mineração de carvão investigada, o problema principal está no alto teor de urânio medido nas drenagens ácidas. A detecção de valores de radioatividade em torno de 100 becquerels por litro (Bq/l) nas águas resultantes dessas drenagens impede seu lançamento no ambiente sem qualquer tratamento, pois poderão expor a população a doses acima dos limites recomendados pela Comissão Internacional de Radioproteção (ICRP, sigla em Inglês).
Cabe destacar ainda dois trabalhos de pesquisadores do IRD sobre o emprego do fosfogesso, como material de construção e como fertilizante agrícola. O primeiro demonstrou que a inalação do isótopo 220 do radônio e de seus descendentes de vida curta emanados das paredes de um cômodo em cuja construção o fosfogesso tenha sido usado como componente da argamassa (e ainda com baixa ventilação e sem proteção - tinta - nas paredes) exporia um morador a até 80% do valor de dose total. O segundo estudo indicou que os valores de dose individual resultantes da ingestão de produtos cultivados com o fosfogesso como fertilizante não representam um aumento de risco que impeça esse uso, mesmo no caso de aplicações sucessivas durante 100 anos.
O aumento da radioatividade ambiental provocado por atividades humanas é um tema sujeito a intensa investigação. Para ampliar a discussão dessa questão no país, o IRD e a Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN) realizaram no Rio de Janeiro, no ano passado, o 2º Technological Enhanced Natural Radiation Symposium (Simpósio sobre Radiação Natural Tecnologicamente Intensificada). Foram abordados, no encontro, aspectos relacionados ao monitoramento desses materiais, às técnicas de medida, à avaliação das exposições de indivíduos do público e trabalhadores, à experiência dos setores industriais, à recuperação de áreas contaminadas e à legislação sobre o problema.
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