[Nelson Tembra] Nenhum outro festival teve tanta importância e repercussão como o de Woodstock, que permanece como o mais importante evento musical contemporâneo. Para compreender a importância, é necessário voltar um pouco no tempo.
O mundo, especialmente os Estados Unidos, passava por tempos difíceis de violência, desilusão e guerra. Os anos 60, a década mais conturbada do século passado, chagavam ao fim com uma sensação de insegurança no ar. O festival de Woodstock foi realizado em 1969 e reuniu uma multidão de mais de 450 mil jovens, para três dias de muitas drogas, sexo e rockn’roll.
Woodstock aconteceria fora da grande cidade de Manhattam, destacando o clima reinante de ‘volta ao campo’. Para atrair seu público alvo, os jovens, foram usados todos os símbolos e slogans da contracultura. O slogan trazia o sentimento antiguerra, o conceito da Era de Aquárius e a intenção de manter a paz no evento.
De acordo com os próprios idealizadores, o festival não deveria ser realizado com a construção de palcos, assinatura de contratos e venda de ingressos. Woodstock deveria ser um estado de espírito, um acontecimento que se tornaria o ícone de toda uma geração.
Woodstock, que esperava 100 mil pessoas, superou todas as expectativas e se revelou um verdadeiro fenômeno. Quase 500 mil pessoas foram até Woodstock para aproveitar três dias de mentes abertas, amor livre, drogas liberadas e muito rock.
O evento transformou-se em um verdadeiro ícone da contracultura. As dimensões de Woodstock foram além das quase 500 mil pessoas, tanto que as discussões de sua importância persistem quatro décadas depois.
Muitos dizem que o festival foi o fim de toda a ingenuidade e utopia que cercavam os anos 60. Outros que foi o apogeu de todas as mudanças e desenvolvimento na sociedade. Todos concordam que Woodstock foi um marco importante na história da música, mas também na história do homem.
Quanto ao FSM 2009, para os que acreditavam que o fim seria o intercâmbio de experiências, devem estar contentes. Para os que chegaram angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo está enfrentando, a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais.
Surpreendente a quantidade e a diversidade de origem dos participantes. Foi notável a participação dos movimentos indígenas e dos jovens, em particular, o momento mais importante do FSM que foi a presença dos presidentes latinos – cujas políticas deveriam ter sido objeto de exposição e debate com os movimentos sociais de maneira ampla, transparente e profunda.
Triste que toda essa diversidade não fosse ouvida, nem sequer por internet, a respeito do próprio FSM, das suas formas de funcionamento, da sua continuidade. No dia seguinte ao final do FSM, reuniu-se o Conselho Internacional, de maneira fria e desconectada do que foi efetivamente o FSM, em que cada um – seja desconhecida ONG ou importante movimento social – tinha direito a dois minutos para intervir.
O “Outro mundo possível” vai muito bem. Enfrenta enormes desafios diante dos efeitos da crise gerada no centro do capitalismo, e para a qual se defendem bem melhor os que participam dos processos de integração regional, do que os que assinaram Tratados de Livre Comercio. Enfrentam a hegemonia do capital financeiro, a reorganização da direita na região, tendo no monopólio da mídia privada sua direção política e ideológica, sem mencionar sua utilização como palanque político.
O “Outro mundo possível” foi muito bem maquiado pelo anfitrião em Belém do Pará, a 'Terra de Direitos'. Muita pirotecnia, exposição de helicópteros, muitas ambulâncias e viaturas policiais, tentando mostrar que Belém é uma cidade ‘grande’. Nenhum mendigo, cães e gatos podiam ser vistos nas ruas. De semelhanças com o festival de Woodstock, talvez, só mesmo muita farra e ‘curtição’, pois está longe de ser um marco importante para a justiça social. Agora voltemos à triste realidade...
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