Evanildo da Silveira
Edição Impressa 155 - Janeiro 2009
Pesquisa FAPESP - © Fabio Colombini
Áreas alagadas da floresta: fonte de 470 milhões de toneladas de gases por ano
Por muito tempo se acreditou que a Floresta Amazônica fosse o pulmão do mundo e um imenso sumidouro de gás carbônico, associado ao aumento da temperatura do planeta. Estudos recentes, porém, indicam que a vegetação amazônica consome sim mais carbono do que emite, mas não na proporção que se imaginava.
Pesquisas do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), projeto internacional que envolve mais de 300 pesquisadores da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa sob a liderança brasileira, demonstraram que ela absorve por ano apenas duas toneladas de carbono por hectare a mais do que libera para o ar (ver Pesquisa FAPESP nº 72). E esse valor pode ser ainda menor – ou até mesmo zero. É que nele não está computado o gás carbônico liberado pelos rios da Amazônia, que concentram 20% das reservas de água doce do mundo.
Nos últimos anos a equipe do engenheiro agrônomo Reynaldo Victoria, da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, vem analisando em detalhes a quantidade de carbono liberada por rios e áreas alagadas de floresta – em especial na forma de gás carbônico (CO2), o principal gás associado ao aquecimento global. Refeitas as contas, os pesquisadores constataram que os ambientes aquáticos da Amazônia emitem para a atmosfera cerca de 470 milhões de toneladas de carbono por ano, o correspondente a 1% do total (49 bilhões de toneladas) de gases estufa emitidos pelas atividades humanas em 2004 no mundo. Divididos pela área coberta por água na região, esses 470 milhões de toneladas equivalem a 1,2 tonelada por hectare, detalhou o grupo de Piracicaba em dois artigos publicados recentemente – um em 2002 na Nature e outro em 2008 no Earth Interactions Journal. Esses dados devem contribuir para que, no futuro, se conheça com precisão a diferença entre o que é absorvido e emitido por toda a Amazônia.
O primeiro desses estudos, resultado de uma parceria do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, com a equipe de Jeffrey Richey, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, sugere que a origem provável da maior parte desse carbono seja a matéria orgânica (plantas e animais) transportada pelas chuvas das terras mais altas, não-inundáveis, e de áreas de floresta que permanecem embaixo d’água parte do ano para os rios e riachos. Apenas uma pequena parte (cerca de 10%) do gás carbônico dissolvido na água chega ao oceano Atlântico, segundo a bióloga Maria Victoria Ballester, pesquisadora do Cena e coautora dos artigos. “A partir dessas descobertas, sugerimos que, somada a emissão dos ambientes terrestres e aquáticos, o balanço global de carbono das florestas tropicais parece próximo de um equilíbrio”, explica.
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