Dirigentes do Fórum Social Mundial em Belém (PA) comemoraram neste domingo (1º), ultimo dia de atividades do evento, a "vitória" sobre o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Para eles, as discussões feitas em Belém terão impacto na superação da crise, enquanto em Davos os “concorrentes” não conseguiram achar caminhos para vencer os desafios da economia.
Um dos fundadores do evento, o diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômica (Ibase), Cândido Grzybowski, afirma que o Fórum Social tem conseguido, ao longo dos anos, mudar a agenda de discussões entre as lideranças mundiais, inclusive em Davos, colocando na pauta temas como pobreza e paz.
No assunto da crise financeira, Cândido não quer ouvir nenhuma proposta de Davos. Para ele, o encontro na Suíça foi um velório e se existe algo que merece atenção é o Fórum Social. “Eles (Davos) não tem o que dizer a não ser explicar porque fizeram essa droga toda dizendo que era a única saída. A única saída era jogar cartas, fazer cassino para afetar todo mundo e criar mais pobreza no mundo? Eles são os únicos responsáveis. Eles e os governos subservientes”.
A italiana Rafaela Bolinni, representante do Fórum Social Europeu, acredita que há um erro dos governos dos países ricos no enfrentamento à crise. “A política não muda e segue enfrentando a crise com as mesmas ferramentas que a produziram. Também continua uma profunda crise cultural e se segue consumindo, acumulando, construindo e fazendo guerras”.
Para o diretor-geral do Ibase, o lema “outro mundo é possível” precisa ser alterado depois de Belém, a partir de agora, o Fórum precisa dizer que “outro mundo é necessário”.
Sem carta
O Fórum não tem um documento final sintetizando as idéias de seus participantes. Nesta tarde, organizações participantes realizam uma grande assembléia divulgando manifestos conjuntos sobre os mais variados temas. Para Cândido, a falta de documento final não atrapalha o Fórum.
“Nós não queremos fazer a velha política. Na nossa carta de princípios está uma nova cultura política que não quer que alguém seja dirigente de alguém”, explica.
Apesar de não haver uma decisão, uma série de manifestações decorrem das discussões do Fórum. A italiana Rafaela, por exemplo, citou que será feita uma manifestação contra o capitalismo na reunião do G20, em Londres, que reunirá líderes mundiais para debater a crise financeira internacional.
Outro evento que saiu do Fórum é o da mobilização dos povos indígenas, marcado para 12 de dezembro, no Peru. Ainda há possibilidade de realização de um fórum específico sobre a crise nos Estados Unidos ainda neste ano.
O comitê organizador do Fórum se reunirá nos dia 2 e 3 em Belém para decidir os próximos calendários. Pelas definições anteriores, em 2010 o evento será descentralizado com um dia de movimentação global. Somente em 2011 o formato de sede única, como aconteceu em Belém, será retomado. Entre os prováveis destino estão Estados Unidos, Oriente Médio e África.
Índios e Amazônia
A realização do Fórum em Belém tinha como um de seus objetivos mostrar ao mundo a necessidade de preservação da Amazônia. Para os dirigentes, a meta foi alcançada. Eles acreditam ter passado a necessidade do respeito ambiental nas discussões sobre desenvolvimento.
A questão indígena e dos quilombolas foram outras marcas do Fórum. Para o peruano Miguel Palacin, representante dos povos indígenas, a crise deveria trazer mais olhares para o seu povo.
“Há uma alternativa a essa crise energética, civilizatória e ambiental. Outro mundo é possível e já existe, está nesses povos”. Palacin destacou que, atualmente, uma das principais lutas dos indígenas é contra a “mercantilização dos produtos originários da terra”.
A representante do movimento negro, Nilma Bentes, destacou que o evento de Belém aproximou os negros dos índios e “deu mais força na luta por uma sociedade mais justa”. Segundo ela, atividades conjuntas dos dois movimentos poderão ocorrer.
Problemas de acesso
A coletiva de encerramento, no entanto, não foi marcada só por comemorações. Representantes estrangeiros da África e da Europa reclamaram da dificuldade de acesso a Belém, o que teria dificultado a participação mais ativa dos militantes destas regiões.
“O número de africanos não foi significativo. A falta de financiamento e o acesso difícil foram um problema. Na África existem ativos movimentos sociais, principalmente em relação a segurança alimentar, juventude e mulheres”, destacou Taufik Ben Abdalla, representante africano.
A mesma reclamação foi feita pela italiana Rafaela. “Chegar à cidade é muito difícil. Para uma pessoa normal de uma organização da Europa vir a Belém custa quase dois meses de salário normal”.
Apesar disso, o brasileiro Cândido acha que a escolha do fórum na capital paraense foi acertada porque os habitantes de Belém “abraçaram” o Fórum. “Fizemos uma grande escolha de vir a Belém, porque, em termos de logística, talvez Manaus ou Quito fosse melhor, mas para nós é fundamental a densidade. A Amazônia tem muito pouco movimento de entidades e aqui abraçaram o Fórum”.
Segundo dados preliminares da organização, o Fórum contou com cerca de 150 mil participantes de 142 países. Foram mais de 5,8 mil entidades de todos os continentes em cerca de 2,3 mil atividades com cobertura direta de veículos de comunicação de 30 países.
Os investimentos públicos no Fórum, segundo os organizadores, foram de R$ 25 milhões. Não estão computados nestes gastos os investimentos na infra-estrutura da cidade e na área de segurança pública.
Segundo Cândido, a arrecadação do Fórum chegará a R$ 6 milhões e permitirá às entidades organizadoras quitar todo o custo do evento. Cerca de R$ 3 milhões foram arrecadados só com a inscrição de participantes.
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