quinta-feira, 5 de março de 2009

Bioetanol social 2

Por Neuza Árbocz, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos


Gerar energia sem prejudicar o meio ambiente e promovendo inclusão social está se provando possível no Brasil, graças à utilização de miniusinas de etanol, produzido a partir de cana, batata-doce, mandioca ou sorgo sacarino.

Essas miniusinas permitem produzir de 500 a 5.000 litros de etanol por dia e chamaram a atenção da Embrapa Agroenergia para um projeto de sustentabilidade energética em 200 hectares, no município de São Vicente do Sul (RS). Ali, a produção envolverá famílias agrícolas no plantio de sorgo sacarino, com um ciclo de aproveitamento total de todo material orgânico gerado.

Os grãos do sorgo servirão para produção de leite e de farinha para consumo humano; o caldo do sorgo, para a produção de etanol; e o bagaço, para ração animal. Com o sorgo, a produção projetada pela miniusina é de 2.500 a 3.500 litros por hectare. O etanol obtido atende as normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para servir como combustível para carros e motos, mas esta não será sua única utilização.

A Usinas Sociais Inteligentes (USI), empresa parceira da Embrapa nesse projeto, aponta que as comunidades envolvidas poderão usar o álcool produzido em tratores agrícolas, assim como em fogões, chuveiros e até mesmo em geradores elétricos, todos adaptados para a utilização do etanol.

A preocupação de Orci Ribeiro, diretor industrial da USI, é ampliar a autonomia das comunidades rurais. Assim, depois que descobriu como produzir álcool em instalações de pequeno porte, ele se voltou para a busca e adaptação de inúmeros equipamentos, pensando na qualidade de vida de quem está distante das grandes cidades.

Entre os equipamentos, o gerador a etanol tem se destacado, ao permitir o fornecimento de eletricidade com baixa emissão de poluentes a pequenos povoados. Para demonstrar esse potencial, a USI montou no município de Não-Me-Toque (RS) um Centro de Democratização da Informática (CDI) alimentado exclusivamente com energia fornecida por esse tipo de equipamento. Esse CDI conta hoje com 12 computadores conectados à internet via antena.

“A questão da eletricidade me preocupava, pois em muitos locais ela ainda é gerada por motores a diesel, produto que a comunidade local não é capaz de produzir sozinha. Além disso, a dependência do diesel gera mais complicações. A Eletronorte, por exemplo, gasta mais diesel no transporte desse combustível para comunidades isoladas na Amazônia do que o que é efetivamente utilizado para a iluminação desses locais”, comenta Ribeiro.

Inserção de trabalhadores

A produção de etanol por miniusinas está se difundindo como bioetanol social, porque sua proposta não se limita em melhor eficiência energética e ecológica, mas considera também o aspecto social tanto quanto os demais. A preocupação em gerar postos de trabalho e possibilidades de renda está inserida no conceito de sua utilização.

“No convênio com a Embrapa, por exemplo, a própria colheita, que se inicia no final de abril, será feita com colheitadeiras pequenas, encaixadas em tratores movidos a etanol; sem queimadas e sem eliminar postos de trabalho”, ressalta Eduardo Mallmann, CEO da USI.

Em novembro passado, Mallmann foi convidado pelo Banco Mundial para expor essa tecnologia a sua diretoria. Na ocasião, falou ao lado de outros 30 representantes de iniciativas de energia renovável e sentiu o grande interesse que o bioetanol social desperta no exterior.

No Brasil, a USI foi procurada pelo governo do Rio Grande do Sul, que negocia a compra de 120 miniusinas para utilização por 3.000 famílias, gerando um total de 12 mil empregos. E está mantendo conversas com o Ministério das Relações Exteriores para levar a tecnologia a países africanos.

O preço de custo do bioetanol varia de R$ 0,35 a R$ 0,50 por litro de álcool a 94/96º GL. Para saber mais, escreva para usi@usibiorefinarias.com.br.

(Envolverde/Instituto Ethos)

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