segunda-feira, 27 de abril de 2009

A lei de Moore e a lei do mais

Thomas L. Friedman
Do New York Times


Não é um exagero dizer que a equipe indicada pelo presidente Barack Obama para promover sua pauta verde é realmente extraordinária - uma ótima combinação de cientistas e criadores de políticas comprometidos com uma economia de energia que seja eficiente e segura. Agora só resta uma vaga para ele preencher. Uma vaga que só ele poderia preencher: a de Presidente Verde. Será que ele está pronto para executar esta tarefa com paixão e valentia necessárias para transformar o futuro energético dos Estados Unidos? Espero que sim. Mas ainda não sei.

Sem dúvida alguma, o presidente começou muito bem: seu pacote de estímulo dará um impulso incrível a todas as formas de energia renováveis. A lei de energia que está sendo redigida pelos democratas Henry Waxman e Ed Markey contém incentivos inéditos para a eficiência da energia e a inovação tecnológica limpa. E a decisão da Agência de Proteção ao Meio Ambiente de Obama, dizendo que o dióxido de carbono é um poluente que ameaça a saúde pública foi corajosa e histórica.

Mas mesmo sendo tudo isto muito importante, não podemos nos iludir, como fizemos antes - o preço importa. Sem um preço fixo para o carbono, de longo prazo e durável, nenhuma das iniciativas de tecnologia limpa de Obama alcançará a escala necessária para ter um impacto nas mudanças climáticas ou fará com que os Estados Unidos estejam na liderança almejada na próxima grande revolução industrial: a TE, ou a Tecnologia da Energia. Neste ponto, eu ficaria feliz com um mecanismo de apreçamento do carbono - limite e comércio, fee-bates, taxa de carbono e/ou da gasolina - desde que seja real e forneça aos consumidores e investidores um incentivo de longo prazo para fazerem a troca por carros, utensílios e prédios ecologicamente corretos.

Bob Lutz, vice-presidente da General Motors, oferece um exemplo de como o preço importa. Quando o Congresso exige que Detroit (a cidade americana conhecida por seu pólo automobilístico) produza carros menores, mais leves e que façam mais milhagem, mas se nega a colocar um preço mais alto no carbono - como acontece com a taxa de gasolina - então, um número maior de consumidores irá comprar estes carros menores, disse Lutz, é o equivalente a ordenar que a indústria têxtil produza só camisas tamanho "p" e não mandar a população emagrecer. Você não vai vender muitos produtos tamanho "p".

Não tenha dúvidas: Das Tea Parties de direita, aos produtores de carvão e industriais, haverá uma campanha inescrupulosa para acabar com as medidas de apreçamento do carbono, incluindo o sistema de limite e comércio. Um exército enorme de lobistas já está trabalhando na questão. Só Obama pode encarar esta. Só ele tem a plataforma para enquadrar e elevar a questão de forma adequada e apresentá-la ao público norte-americano com a paixão e a clareza necessária para tocar o país. Será preciso mais do que um discurso.

Eis uma forma de começar: "Meus compatriotas, eu quero falar-lhes de uma nova lei econômica. Vocês já conhecem a Lei de Moore para a tecnologia da informação. Eu gostaria de falar-lhes da 'Lei do Mais' da tecnologia da energia. Americanos, Indianos, Chineses, Africanos, todos queremos mais - mais conforto em nossas casas, mais mobilidade em nossas vidas, mais tecnologias para inovar. Mas há apenas uma forma com que os 6,3 bilhões de nós possam ter mais e não fazer deste um planeta inabitável, que é viver nossas vidas e administrar nossos negócios de maneiras mais sustentáveis e contabilizar tudo isso de forma correta.

"Agora estamos pagando um preço altíssimo - uma taxa - para todos que estão tentando conquistar mais de uma forma sustentável. Mas a 'Taxa Mais' não é imposta pelo governo norte-americano. É uma taxa imposta pelo mercado e continuará aumentando indefinidamente enquanto mais e mais pessoas quiserem mais e mais coisas. Ela irá consistentemente aumentar os preços da gasolina, do aquecimento das casas e da eletricidade das fábricas. Mas porque esta 'Taxa Mais' é estabelecida pelo mercado e não pelo governo, muitos oponentes concordam que não há nada a se fazer: "Oh, US$ 4,50 pelo galão de gasolina - é apenas um resultado do mercado. Não há nada que possamos fazer". E todo o dinheiro dos impostos que sai do seu bolso vai para enriquecer as empresas de petróleo e os petro-ditadores.

"A minha proposta é que hoje nós fixemos um preço durável nos combustíveis de fósseis de carbono, mas estabelecer seu início em 2011, depois que a recessão tiver passado. Cada construtor, fabricante de ar condicionado, refinador de gasolina, fabricante de automóveis saberá que a medida está chegando e irá, acredito eu, imediatamente procurar formas de lucrar e investir em sistemas de energia inteligente. Sim, o custo da gasolina ou do kilowatt/hora aumentará no curto prazo. Mas no longo prazo, suas contas e despesas diminuirão porque o seu carro, seus utensílios e fábricas ficarão mais produtivas e darão a você mais eletricidade por menos gasto de energia.

"Eu o chamo de 'O Corte da Taxa de Carbono'. Você não receberá o dividendo na primeira semana ou mês, mas o receberá em breve, e será um corte permanente na taxa, um presente que continuaremos a dar.

"Então, estas são suas escolhas, amigos: uma 'Taxa Mais' crescente para sempre, baseada na gratificação instantânea e no pensamento imediatista, ou um "Corte na Taxa de Carbono" para sempre, que é exatamente o que você ganhará ao estabelecer um preço para o carbono que norteie o mercado a favor dos interesses americanos e não dos nossos adversários e concorrentes. Se vocês estão comigo, escrevam para seus deputados ou senadores hoje mesmo.


Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

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