
De acordo com a notícia, uma nova série de fascículos, a terceira do gênero, com patrocínio da Vale do Rio Doce, é lógico, em papel especial, apresentará ‘novidades’ e nos mergulhará em ‘desafios da Amazônia’, pondo a região em debate e ‘ajudando a entender os entraves ao desenvolvimento’, prometendo aos leitores amplo conhecimento sobre mais diversos temas em uma das regiões mais cobiçadas do planeta, e bota cobiçada nisso...
Para quem ficou com gosto de ‘quero mais’ depois do último fascículo da segunda série, que tratou do futuro da Amazônia frente ao efeito estufa, já fica o indicativo do que será a nova edição, considerando que a Vale insiste em trilhar caminho inverso ao dos países desenvolvidos, ao requerer licença ambiental para implantar uma usina termelétrica movida a carvão mineral em Barcarena, mostrando a contradição entre o discurso e a prática, posto que o carvão mineral seja reconhecido como altamente poluente e a sua combustão contribui para elevar o aquecimento global, dentre outros danos ambientais à saúde humana.
A nova série de ‘Amazônia’ também pretende ‘desmistificar’ o discurso de que estudiosos que vivem na região não conhecem ou não sabem falar de sua terra, e que a coleção ‘é uma prova de que temos intelectuais competentes, que produziram e produzem muito conhecimento acerca da realidade amazônica’. Pergunto quem disse ou pensou o contrário? Só se foram eles próprios! Dispomos sim, de importantes Instituições de Ensino e Pesquisa e nem é preciso declinar os nomes.
Sinceramente, não sei se choramos de felicidade ou rimos de tristeza, centrados nos povos da Amazônia, vítimas freqüentes de esquecimento e discriminação, graves conflitos, de violência e sangue, e nos problemas da ocupação da terra e da exploração dos recursos naturais, onde, muitas vezes, ou quase sempre impera a lei da selva, a lei do mais forte, devido ausência ou ineficiência do Estado e suas Instituições.
Devemos questionar esta visão elitista, que olha a Amazônia como um saco de onde só se retira riquezas e onde ações bem intencionadas e até românticas podem servir para ocultar uma verdadeira tentativa de sabotagem das reais perspectivas de progresso de uma sociedade.
Considerada, pela base da Igreja e Movimentos Sociais, um dos principais vetores de desmatamento da Amazônia e co-responsável por crimes como o trabalho escravo e prostituição infantil, a Vale segue patrocinando divulgações ‘especializadas’, milimétricamente encomendadas. O mais grave, segundo os movimentos, a Companhia Vale do Rio Doce seria uma das principais responsáveis pela destruição ambiental e por conflitos com as populações tradicionais da Amazônia.
A Vale viabilizou a construção de uma série de siderúrgicas que utilizam (ou utilizavam) o carvão vegetal para a produção do ferro-gusa. Segundo o cálculo de ambientalistas e de outros estudiosos, foram praticamente 300 mil hectares de floresta primária que, a cada ano, foram destruídos para a produção de carvão. Algumas dessas siderúrgicas, na região de Marabá (Pa), já foram flagradas e multadas pela fiscalização do Ministério do Trabalho por manter centenas de trabalhadores como escravos em suas carvoarias, inclusive crianças, apenas para citar um exemplo entre muitos.
Como é possível uma empresa como esta chamar a atenção para a defesa e a preservação do meio ambiente e para a valorização das comunidades e povos tradicionais da Amazônia? E a legitimidade para pautar um debate sobre os grandes problemas da região e suas origens? Quais os entraves para o desenvolvimento amazônico e as estratégias de crescimento? Basta olhar e refletir no espelho...
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Um comentário:
Caro,
concordo com você.
As empresas querem que a visão de excelência seja somente visão.
Não fazem muito para que no íntimo sejam realmente o que pregam na mídia.
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