quinta-feira, 18 de junho de 2009

Indicadores de crescimento não medem qualidade de vida

Por Denise Ribeiro, para a Envolverde

Quando os desastres ecológicos colaboram para o crescimento do PIB é sinal de que há algo de errado com o modelo de desenvolvimento. “Crescer por crescer é a filosofia do câncer”. A frase, dita pelo economista Ladislau Dowbor, professor da PUC, que a tomou emprestado de um banner estudantil, ilustra o quanto os números escondidos por trás do PIB podem forjar falsas realidades. Num mundo em que dois terços da população – cerca de 4 bilhões de pessoas – não têm voz e que desastres ecológicos colaboram para o incremento do PIB porque geram fluxo de caixa, está claro que há algo de muito errado com os atuais indicadores de crescimento.

A urgência em mudar esses paradigmas e em entender que qualidade de vida tem pouco a ver com acúmulo de riquezas pautou as discussões do painel Redefinindo Riqueza e Pobreza numa Nova Economia Global, realizado no terceiro dia da Conferência Ethos 2009. Além de Dowbor, participaram do debate Marcio Pochmann, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-Ipea e Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo. A moderadora foi Anamaria Schindler, do Instituto Arapyaú.

Ladislau afirmou que, desde a “queda do muro de Wall Street”, um choque de realidade para o capitalismo, a nova economia deixou de ser coisa de sonhador. “O que temos feito, além de discutir o preço do coquetel de remédios, pelas 25 milhões de pessoas que já morreram de Aids? Ou pelos 10 milhões de crianças que morrem todos os anos?”.

Para o professor, não há lógica em medir o PIB pela intensidade do fluxo de recursos. Não são mensurados, por exemplo, os ganhos sociais e a economia de recursos, gerados por programas que reduzem a mortalidade e as internações hospitalares: “Quando isso acontece, o PIB cai, porque é péssimo para as empresas que fazem comércio com a saúde”, explica.

Outras coisas que o PIB não mede: o tempo que o paulistano gasta nos congestionamentos, a redução de estoques de minérios, a externalização dos custos (as filas dos bancos, por exemplo) que rentabilizam as empresas mas punem o consumidor.

Todos os participantes concordam que é chegada a hora de a economia gerar mais impactos positivos para a soma da sociedade. Marcio Pochmann, do Ipea, alerta para a enorme resistência de ordem política que essa mudança de paradigmas pode provocar. “Não é por falta de indicadores que o cálculo do PIB permanece inalterado. Nem há razões técnicas para que as pessoas morram de fome. Há interesses em jogo que impedem as mudanças”, argumenta. Segundo ele, vivemos uma crise de gestão internacional, com organismos como a ONU e o FMI incapazes de promover esse salto transformador e unificador de propósitos.

Para Pochmann, não estamos sendo capazes de nos organizar em torno de algo que nos congregue, nesse momento de crise do pensamento neoliberal. A inclusão dos mais pobres se dará pela apropriação da educação contínua. A construção de um novo modelo econômico passa, necessariamente, pela articulação entre os saberes da sociedade (universidades, associações de bairro, pesquisadores, sindicatos e outras organizações).

Um bom começo seria cada cidade se organizar em busca de mais qualidade de vida. Nesse quesito, o Movimento Nossa São Paulo, capitaneado por Oded Grajew, é a ponta de lança e o desencadeador de um modelo que já inspira duas dezenas de outras cidades. (

(Agência Envolverde)

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