[Editorial 12.06.2009]
A República federativa do Brasil vive uma época de crise de credibilidade dos poderes responsáveis pela administração do bem comum da nação. Embora a constituição nacional afirme que todos são iguais perante a lei, na prática, aumenta a cada ano, a desigualdade social e a lei é quase sempre aplicada de modos diferenciados. Se é para um pobre, chega o rigor dela; se é para um político corrupto, ou um mafioso rico e esperto, chegam as filigranas da lei, que os deixam livres.
Fala-se hoje da urgência de uma reforma política, pois do jeito em que está, é uma desmoralização da democracia, mas a reforma não sai. O judiciário é criticado, não só pela morosidade, mas principalmente pela parcialidade de muitos juízes e até desembargadores (as). Uns até entram na onda de criminalizar os movimentos sociais, como se estes fossem os responsáveis pela desordem a falta de progresso. O legislativo, em toda a cadeia descendente, já chegou ao fundo do poço da falta de credibilidade.
Resta um setor da república que merece respeito e confiança, o Ministério Público Federal, o MPF. Isto porque até hoje tem sido zeloso no respeito ao patrimônio nacional e talvez por ter em seus quadros a maioria de procuradores jovens e éticos.
No entanto, os que andam fora da lei, especialmente os grandes criminosos ambientais e sociais, estão incomodados com a coragem do MPF. No Estado do Pará são vários os incomodados.
Nestes dias, redes de supermercados, frigoríficos e derivados, acusam o MPF de “excesso de zelo que inviabiliza toda a cadeia de pecuária de corte do Pará”. Essa reação nervosa é porque o MPF está processando todo frigorífico e supermercado que esteja comprando e vendendo carne de gado, criado em áreas públicas, provocando crimes ambientais. Ora, como vários fazendeiros invadiram terras públicas, derrubaram florestas para fazer pastos, não se preocuparam em respeitar as leis da nação, fiados na impunidade constante, agora encontraram um setor da república que faz valer as leis constitucionais.
O MPF é acusado de excesso de zelo e este os acusa de excesso de criminalidade. Basta ver o crescimento do rebanho bovino na Amazônia. Nos últimos 10 anos o rebanho passou de 32 milhões de cabeças de gado em 2000, para 75 milhões, em 2009 . Pode-se imaginar quanta mata e floresta foram derrubadas para abrir tanto pasto.
Daí a ação, já um pouco atrasada do MPF, considerada excessiva, imagine! A situação de ausência do Estado é tão grande e até conivente, deixando acontecer a lei do mais forte, que quando o MPF cumpre seu dever, logo é considerado excessivo e prejudicial à economia no país. Só se espera que o MPF não se intimide nem se corrompa como alguns outros setores da grande república federativa do Brasil têm feito.
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