quinta-feira, 2 de julho de 2009

Setor da construção civil busca transformações


Por Neuza Árbocz, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos

O desafio é atender ao crescimento da demanda e, ao mesmo tempo, reduzir sua pegada ecológica

A demanda por cimento e concreto está em franca expansão e as indústrias do setor têm investido na ampliação de suas operações para não deixar faltar produto no mercado. “A previsão de crescimento é ainda mais intensa para os países em desenvolvimento, pois estes ainda têm muita infraestrutura a prover”, esclarece Barbara Dubach, gerente de Desenvolvimento Sustentável do Grupo Holcim, uma das empresas líderes nesse setor, que resolveu enfrentar o desafio de atender à ampliação do consumo e ao mesmo tempo reduzir sua pegada ecológica.

“Pegada ecológica”, para quem ainda não se familiarizou com o termo, é o conjunto de impactos ambientais provocado por uma determinada pessoa, governo, corporação etc. com suas atividades. Segundo relatório da Agência Ambiental da Holanda, o setor de cimentos e derivados é responsável por 8% das emissões globais de CO2 causadas por atividades humanas, principalmente pela extração do calcário e as queimas no processo de fabricação.

Para estudar formas de reduzir esse efeito, o setor lançou, em 1999, a Iniciativa pelo Cimento Sustentável (CSI), junto ao World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), criado na Eco 92. O termo pode deixar de cabelos em pé ambientalistas defensores de métodos alternativos, em que se usam matérias-primas como a terra, para a produção de adobe, cob, taipa etc., ou bambus e pedras. Mesmo alcançando qualidade refinada, contudo, essa chamada “bioconstrução” ainda não se mostrou capaz de atender os desafios colocados pelas condições atuais no planeta.

“Considerando que precisamos nos adaptar às mudanças climáticas em curso, o concreto se destaca como material resistente e seguro para novas construções e abrigos”, argumenta Barbara. A formação de megacidades – tendência consolidada desde a virada de século – também coloca esse material em evidência, já que permite construções em larga escala, necessidade amplificada também pelo aumento da população e o déficit de moradias adequadas ainda existente em muitos países.

“Acompanhamos com atenção experiências com outros materiais, mas passamos também a agir naquilo que já é possível: melhorar nossas operações em cada uma de suas etapas e influenciar construções mais eficientes, que diminuam as emissões de CO2, já que um bom projeto nesse sentido pode ter um grande efeito”, explica a executiva.

Iniciativa pela sustentabilidade

A Holcim foi uma das empresas fundadoras da CSI, que hoje reúne mais da metade das indústrias de cimento do mundo, com exceção das chinesas. Essa iniciativa lançou sua “Agenda para a Ação”, em 2002, e as empresas que se associam a ela têm quatro anos para atender seus requisitos. Estes se organizam em seis segmentos: CO2 e Proteção do Clima; Uso Responsável de Combustíveis e Matérias-Primas; Segurança e Saúde de Funcionários; Monitoramento e Redução de Emissões; Impactos Locais no Solo e nas Comunidades; e Reciclagem de Concreto.

As integrantes deste acordo também decidiram adotar “Indicadores Chaves de Desempenho”, verificados por auditorias independentes e divulgados publicamente. Novos requisitos estão sendo adicionados, conforme avançam as mudanças necessárias.

O maior desafio é melhorar as práticas e competir ao mesmo tempo com indústrias que continuam a operar em sistemas antigos, sem corrigir ou minimizar os impactos causados. A existência de uma iniciativa conjunta ajuda bastante, mas há muito a fazer. O conselho tem abordado o governo chinês, por exemplo, para demonstrar a urgência em alterar o modo de operar das cimenteiras naquele país. Este agora aceita ser possível melhorar as operações nesse campo, entretanto ainda estuda como fazê-lo.

As pioneiras arriscam-se a se tornar vitrines, recebendo julgamentos de especialistas, acadêmicos e mídia socioambiental, numa área em que há muitas dúvidas e à qual os consumidores ainda são pouco atentos, mesmo em centros bem desenvolvidos. O diálogo constante tem sido um de seus recursos para difundir a busca pela produção mais eficaz de materiais, prédios e construções em geral.

A Holcim, empresa que pelo quarto ano consecutivo recebe o título de “Líder de Setor” do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, por exemplo, envolve as comunidades do entorno de suas operações para decidir em conjunto o destino da área de mineração após o seu esgotamento. Dessa forma, durante sua exploração a empresa já reserva recursos num fundo para implementar a solução escolhida coletivamente. E também investe na aproximação com engenheiros e arquitetos para incentivar a construção de prédios inteligentes do ponto de vista de circulação de ar, climatização, iluminação e no uso geral de energia, reduzindo inclusive, a utilização de concreto e cimento onde possível.

As participantes da CSI focam, de modo geral, em modernizar suas fábricas e processos e utilizar combustíveis alternativos, como biomassa, lixo e materiais de descarte de outras indústrias, na queima para produção de cimento e agregados. Com isso, a Lafarge, outra líder do setor, por exemplo, reduziu em 16% suas emissões de CO2 mundiais, de acordo com avaliação da organização não-governamental WWF.

Os problemas atuais não surgiram do dia para a noite. Modificar todo um sistema de produção requer tempo. Resta saber se a Terra consegue suportar as pressões sobre ela até que as soluções se efetivem. Ou será que podemos acelerar o passo das mudanças?

(Envolverde/Instituto Ethos)

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