sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Nem só de lixeiras coloridas vive o meio ambiente

Jetro Menezes*

As ações em favor do meio ambiente mobilizam ONGs, OSCIPS, governos, iniciativa privada e população em várias partes do mundo e no Brasil não é diferente. Há várias iniciativas no país relacionadas a educação e conscientização ambiental e atitudes sinceras. Mas por que os resultados nem sempre são positivos ou produtivos?

Segundo o consultor em meio ambiente Jetro Menezes, mesmo sendo um apelo recorrente na mídia, ainda há muito o que caminhar para que as informações sobre meio ambiente sejam amplamente conhecidas e, principalmente, causem o efeito que se espera no cidadão comum, nos órgãos públicos e nas empresas. “As pessoas tendem a se sentir bem ao verem, por exemplo, lixeiras coloridas em algum lugar em que estejam passando. Mas instalar lixeiras, por si só, não significa que o empreendimento tem um programa de coleta seletiva eficaz”, diz ele. Uma das causas comuns é que os envolvidos direta e indiretamente numa ação ambiental nem sempre são treinados para conduzir o processo de forma correta.

O cidadão comum, que diariamente gera material reciclável (calcula-se que cada pessoa gera aproximadamente um quilo de lixo por dia), seja o consumidor em sua residência ou o membro de uma empresa, ainda carece de conhecimento e consciência suficiente, segundo ele. Em locais onde há maior geração de lixo, como prédios, condomínios residenciais e comerciais e empresas, a participação no projeto deve envolver funcionários, administradores e moradores da mesma forma.

Para diminuir as dúvidas, empresas e condomínios estão recorrendo a palestras e eventos sobre coleta seletiva com consultores especializados, devido ao volume de informações e ações que devem virar hábito em cada um dos envolvidos. “No momento em que reunimos pessoas de todas as classes e cargos nesses locais, surgem dúvidas que parecem ser simples e as respostas, óbvias. Mas nem todo mundo sabe responder precisamente.

De acordo com ele, as questões sobre programas de coleta seletiva mais comuns:

· Tenho as lixeiras, mas ninguém participa. Por quê?

· Somente as lixeiras coloridas bastam para um programa de coleta seletiva? E o que faço com o material reciclável depois que comprar essas lixeiras?

· Qual a importância do treinamento? Quem receberá?

· Investimos muito dinheiro e até agora o programa não deu resultado. Por quê?

· Quem será responsável pela implantação do programa na empresa?

· O chefe é centralizador e o programa não anda. E agora?

· Quem coleta o nosso reciclável? Onde vai ser armazenado enquanto a equipe de coleta não chega?

· Somos grandes geradores?

· Existe lei que rege este segmento?

Na prática é diferente

O consultor conta que atendeu várias empresas e até órgãos públicos que começaram seu projeto de reciclagem acreditando que deveriam priorizar a informação em todos os níveis. Num primeiro caso, o consultor foi procurado por uma instituição que já tinha uma comissão de meio ambiente instalada. As reuniões de trabalho foram feitas junto a essa comissão, que tinha autonomia para resolver os problemas. Resultado: todas as questões levantadas foram solucionadas e o projeto já tem resultados positivos.

Mas as experiências negativas também existem e vieram de dois condomínios residenciais. No primeiro caso, as informações e decisões foram centralizadas em chefias que delegaram tarefas, mas não deram autonomia para funcionários, o que gerou demora nas pequenas decisões e acabou paralisando o projeto.

No segundo caso, a administração resolveu implantar a coleta seletiva, mas não aceitou dar treinamento aos funcionários e envolver os moradores no projeto (que, afinal, são os maiores geradores do lixo). “O ideal é a criação de uma comissão interna para acompanhar e deliberar sobre o assunto. Uma comissão que capacite, informe e envolva funcionários e moradores na causa”, diz ele.

Menezes acredita que as palestras e treinamentos com funcionários ou moradores - formadores de opinião - são imprescindíveis pelo fato de trabalharem na educação ambiental e na conscientização sobre os caminhos corretos para o lixo. Para ele, muitos projetos geram resultados sem precisarem ter à frente gente com cargos executivos. “Pessoas de todos os cargos e níveis precisam se envolver porque todos geram lixo. E nunca sem o apoio da alta direção”, diz o consultor.

*Gestor e auditor na área ambiental e consultor da Jetro Menezes Consultoria Ambiental.

Nenhum comentário: