segunda-feira, 15 de junho de 2009

Acusados de pedofilia afligem Portel

Carlos Gonçalves é acusado
de molestar a enteada de 12 anos


“Eu criei, eu desenvolvi, eu vou ser o primeiro”. A afirmação foi do lavrador Carlos Alberto Gonçalves de Lima, de 42 anos, dita a Adalberto Pereira, delegado de Portel, na madrugada do último sábado. Carlos Gonçalves está preso e confessou o crime de pedofilia cometido contra uma enteada, de 12 anos.

“Foram duas vezes, ela tinha doze anos, era troca de bagulho”, adianta o homem, natural de Breves e que vivia na comunidade de Acuti-Pereira. Para ele, a enteada foi a responsável, mas ele acaba confessando o crime. Diz-se arrependido. “Quando vi que o negócio pegou, eu me arrependi. A filha acaba tendo a cabeça feita pela mãe”, argumenta Carlos. Ele vendia açaí, mandioca e demais culturas da região.

Perguntado sobre o futuro, Carlos disse: “Se eu largasse tudo, ela retirava a queixa contra mim”. Apesar de Carlos se sentir arrependido, o lavrador está entre os 48 presos da delegacia de Portel. Entre eles há mais cinco homens acusados de molestar adolescentes, muitas vezes na relação familiar.

Carlos diz que a enteada acabou forçando “uma situação”. Ele conta que viveu com a mãe da menina e, por conta de a ex-companheira querer os pertences dele, criou o fato e acabou ludibriando-o. Com quatro filhos, sendo dois enteados, Carlos foi abandonado pela família. Ele é casado, pai de dois filhos, mas sofre com a situação. “Não adianta ir contra a mentira. Acho que a mãe dela fazia isso por troca de bagulho. Ela fazia chantagem contra mim”, disse o lavrador. O “bagulho” seria a moeda de troca que ex-companheira estaria exigindo para manter a inocência de Carlos Gonçalves.

Entre justificativas e detalhes sórdidos

Atualmente, na cidade de Portel, são seis pessoas acusadas de crime de abuso sexual, muitos específicos de pedofilia. Ao todo são 48 os presos já custodiados, mas sem as condições devidas. A questão de crimes de pedofilia na cidade de Portel tem seus desdobramentos.

Edvaldo Rocha, 37, é acusado de violência sexual contra a enteada, menor de idade. O trabalhador autônomo, que realiza serviços de pedreiro, nega as acusações. “Eu não queria que ela fosse para o caminho das drogas, queria que ela fosse apenas para escola. Eu controlava ela, não deixava se misturar”, confessou Edvaldo. Edvaldo é acusado de bater na menina, hoje com 12 anos. Ela, por determinação judicial, acabou sendo transferida para uma casa de abrigo de Portel e lá deve ficar até a Justiça avaliar a situação do padrasto. “Cheguei a bater nela porque ela era rebelde. Fui para o conselho, assinei um termo, mas nunca mais bati nela”, disse Edvaldo. Ele conta que é vítima de complô da família da enteada e de professores da escola.

Outros são acusados da prática do crime em Portel, mas Carlos Gonçalves foi o único que acabou por assumir a condição de abusador. Contudo, o cárcere da cidade, superlotado, tem outros atores. Quem pode ser considerado o pior deles é Sebastião Bahia Costa, 37, conhecido como “Cu de Abacate”. Ele é o responsável pelo abuso durante sete anos da filha, hoje com 14 anos. A menina está sob a suspeita de contágio de Aids e demais doenças sexualmente transmissíveis. À redação do DIÁRIO, Sebastião disse que não é culpado, que está sendo acusado injustamente e que apenas a advogada falaria por ele. “Não falo, falo apenas com a minha advogada”, disse.

“Existe no interior uma cultura de que as mulheres tenham cedo o seu parceiro. Mas uma coisa é cultura, a pedofilia já é doença. Nós temos instintos animalescos, mas devemos nos conter”, diz a delegada Socorro Maciel. “Ele (criminoso) diz que existe a doença, mas que não é dominado. Se a pessoa não reconhecer isso, torna tudo mais difícil. É como uma droga”, analisa Socorro, que trabalha há dez anos na Divisão de Atendimento ao Adolescente.

(Diário do Pará)

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